Foi fetu 1000 izenplar na 2006, mas inda es sta bazadu na montra di Palasiu Ildo Lobo Na Plateau...
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Reconhecendo embora todos os benefícios que o ensino, e nomeadamente a instrução ministrada no Seminário-Liceu, criado em 1866, trouxeram a um punhado de cabo-verdianos que a ele tiveram acesso, não se pode deixar de constatar os malefícios que a interiorização e a marginalização do crioulo acarretaram para a sociedade cabo-verdiana, que assim se encontrou dividida em duas classes: a dos que falavam e escreviam o português (uma minoria) e a dos que não o falavam e, sobretudo, não o escreviam (uma significativa maioria). Dito de outro modo, a classe dos cultos e civilizados e a dos ignorantes e sem cultura. Desse modo consagrava-se no seio da sociedade (e, pior ainda, no mais profundo da mente dos colonizados cabo-verdianos), em primeiro lugar, a convicção (errada) de que as línguas escritas são superiores às línguas orais; em segundo lugar, o preconceito (de difícil erradicação) de que a língua do colonizador, o português, tem mais valor intrínseco do que o crioulo.
O colonizado cabo-verdiano foi, assim, levado a tomar posição sobre a sua própria língua. Daí para frente, há uma constatação que ele passou a fazer parte desde a sua entrada na escola, ou até mesmo quando não chega a ser alfabetizado: a de que, na sociedade cabo-verdiana, coexistem dois códigos linguísticos, um oral e outro escrito, um informal e outro formal, um desprestigiado outro valorizado, os quais correspondem, respectivamente, ao crioulo e ao português. Pelo estatuto que cabe a cada um deles na organização social, são percebidos pelos falantes do crioulo, tanto os bilingues como os monolingues, como referências linguísticas de valor desigual.
Da segunda metade do séc. XIX a esta parte a situação linguística manteve-se intacta. O crioulo embora pouco prestigiado, continua a ser língua nacional dos cabo-verdianos, a língua em que decorre a vida em Cabo Verde, como disse Jorge Amado. O português é ainda a única língua de ensino e das relações oficiais. Todavia, apesar de se ter passado um século sobre o início de escolarização em todas as ilhas, no momento em que o país se tornou independente havia 70% de analfabetos. O que não significa que os 30% restantes fossem realmente bilingues. Na realidade, ser escolarizado não é, em Cabo Verde, garantia de domínio da língua portuguesa, até porque o ensino do português é dificultado por se fazer como se de língua materna se tratasse. Por isso, a percentagem de bilingues em cabo verde foi sempre diminuta.
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DUARTE, Duce Almada. 2006. “A História da Escrita em Cabo Verde”. In Proposta de Bases do Alfabeto Unificado para a Escrita do Cabo-verdiano. Praia: IPC
Épah, daria tudo para ter um exemplar deste para ler nas oras vagas da faculdade. Já tenho mais um para ler no verão qd eu for de férias.
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