Vozes dos animais
Palram pega e papagaio,
E cacareja a galina;
Os tenos pombos arrulham,
Geme a rola inocentinha.
Muge a vaca, berra o touro,
Grasna a rã, ruge o leão;
O gato mia, uiva o lobo,
Também uiva e ladra o cão.
Relincha o nobre cavalo,
Os elefantes dão urros,
A tímida ovelha bala
Zurrar é próprio dos burros.
Regouga o sagaz raposa,
Brutinho muito matreiro;
Nos ramos cantam as aves,
Mas pia o mocho agoureiro.
Saben as aves ligeiras
O canto seu variar;
Fazem gorgeios às vezes,
As vezes põem-se a chilrar.
O pardal daninho dos campos,
Não aprendeu a cantar:
Como os ratos e as doninhas
Apenas sabe chiar.
O negro corvo crocita,
Zune o mosquito enfadonho;
A serpente no deserto
Solta o assobio medonho.
Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem se os porcos grunhir;
Libando o suco das flores,
Costtuma a abelha zumbir.
Bramem os tigres,
Pia, pia, o pintainho;
Cucurita, canta o galo,
Late e gane o cachorrinho.
A vitelinha dá berros,
O cordeirinho balidos;
O macaquinho dá guinchos,
A criancinha vagidos.
A fala foi dada ao homem,
Rei dos outros animais:
Nos versos lidos acima
Se encontram em pobre rima
As vozes dos principais.
Pedro Dinis, In LIVRO DE LEITURA DA 3ª CLASSE (1960?)
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