JLT, O Poeta e a sua Língua Materna.
"(…) As pessoas que se recusam a escrever no alfabeto de base fonetico-fonológica, presumo que não façam por razões científicas façam mais por razões emotivas e sentimentais. Porque também o alfabeto português é uma convenção, só que as pessoas, portanto começando da escola primária, aprenderam essa convenção, e uma convenção, e uma convenção tão forte que parece uma coisa natural, mas não é. É uma convenção como qualquer outra, e convenção por convenção, prefiro aquela que simplifique esse alfabeto que eu sigo, seguiria qualquer outro que o meu país propusesse, portanto de base fonológica, ideográfica ou qualquer que fosse. Porquê, portanto também um país tem autoridade para legislar em termos de uma política linguística. Eu provavelmente, neste momento, sou o único escritor, se amanhã se tentar efectivar, implementar o acordo ortográfico está em condições de ser estudado portanto, os meus livros estão escrito segundo as normas actuais… se eu escrevo em português aceitando um ditame, acho que não perguntaram ao meu país, portanto se ele queria ou não,… eu sigo um acordo … que não foi discutido no meu país e por maioria de razão também sigo aquilo que o meu país e autoridades competentes propuseram …
O parlamento é casa da democracia, nestas coisas têm que ser discutidas no parlamento. Mas acho que, se calhar, foi feito numa altura que não era muito conveniente. E depois tentou-se mais fazer, portanto, legislação, coisas do âmbito político. Quando, portanto, não está esgotado aquilo, portanto, que é ao nível daquilo que já estava na legislação, que já estava previsto. Portanto não se fez tudo, que se podia ter feito até chegar a fase da oficialização. Portanto, havia muito mais trabalho a fazer… antes de chegar… até porque em Cabo Verde as coisas estão muito extremadas, mesmo que as pessoas estejam de acordo, mas querem sempre, portanto, tirar ganhos, dividendos. Portanto, nessas coisas … pronto, e correu, correu como correu, correu mal. Se calhar vamos ter tempo para triunfar as coisas com mais calma…
Se o crioulo fosse escrito e lido havia mais valia em termos de possibilidades das pessoas se exprimirem e se conhecerem melhor em termos literários?
Bom, quer dizer, eu acho que a língua é o factor primeiro da nossa, portanto, identidade cultural. Se nós ouvindo alguém a falar em crioulo ou em língua caboverdiana, mesmo que essa pessoa não seja caboverdiano, a primeira coisa que nós pensamos, nós pensamos que estamos em presença de um caboverdiano, portanto, nós somos falados pela língua, eu vejo que quando as pessoas, os caboverdianos exprimem na sua língua materna fazem-no com uma desenvoltura, com uma alegria que não vejo no português . quer dizer, por mais que queiramos o português que é uma herança nossa, que é uma coisa nossa também, mas não é uma coisa natural para nós. então o que temos que fazer é tentar aproximar essas duas línguas. Levar o crioulo para patamares formais e trazer o português para patamares informais, para que nos sejamos um país verdadeiramente um país bilingue, não um sistema de diglosia...
Exactamente. Oorque, quer dizer, neste momento ambas as línguas correm perigo: o caboverdiano corre perigo, portanto, de descrioulização e o português corre perigo, portanto, de ser tomado de assalto também pelo caboverdiano.
…e de se nascer se calhar uma outra lingua. nem o crioulo genuíno e nem o português…
Bom, parece-me que sim, que já há uma outra língua em cabo verde. de vez em quando oiço as pessoas a falar supostamente em língua caboverdiana e quando oiço aquilo disse, mas isso, mas isto não é língua caboverdiana. Porque as pessoas como não conhecem a gramática explícita da sua língua então têm tendência, portanto, a decalcar o sistema do português para o caboverdiano. Aliás, eu quando começa essa discussão, essa discussão do caboverdiano, as pessoas muito emotivas, com opiniões muito fortes e tal, portanto, as pessoas quando têm convicções muito fortes não param para reflectir. Se calhar é preciso fazer-se mais reflexão e menos convicção... Então eu pergunto às pessoas… como é que se diz “os teus olhos em crioulo? Então cometem o erro básico quer dizer: BUS ODJUS. Acho que é uma coisa que não existe em caboverdiano. Não vou explicar porquê, porque acho se quiserem uma curiosidade podem aceder a uma gramática e perceber porquê que não é BUS ODJUS, que é outra coisa…
Se for ao dicionário já ficará a saber outras coisas…".
TCV: in A ENTREVISTA com José Luís Tavares.
Agora, que Dicionário? E que Gramática? Quem têm autoridades para "aferir" a Gramática da LCv?
- Porque não dizer que o caboverdiano decalca o sistema do crioulo para o português?
Os teus olhos (Pt) = Bu oju. (ex. bu odju di uba maduru/ bu oi di uva maduru. Se quiser saber o porquê, experimente traduzir para o português as seguintes frases:
1. Bu ka ta poi pe li!
2. Kabelu sima padja di asu;
3. N tene mon ta treme.
3. Ze Kebra pe na ta bua na rubera.
4. Tó tene dor di denti.
5. Onti N anda txeu, N tene pe tudu busudu.
PS: Kabuverdianu ta papia kriolu, mo dja bai dja bai (?) mas e ka ben assin.