8.9.10

Analfabeto, eu?

Acho que o artigo pode ser ruminado,

"A propósito do ALUPEC, anotei aqui que percebemos bem o crioulo, mas lemos melhor o português...

Claro, somos analfabetos em cabo-verdiano e a meia dúzia de estudiosos e escritores nas variantes da língua materna são os pioneiros que constituem a excepção à regra geral. Um caso concreto, não é por snobismo que a nossa entrevista realiza-se na língua portuguesa. O Monteiro e eu somos analfabetos em crioulo cabo-verdiano e os nossos prováveis leitores também. Eu li estudos e trechos de Eugénio Tavares, Pedro Cardoso, Napoleão Fernandes, Baltasar Lopes, Dulce Almada Duarte, Tomé Varela, Manuel Veiga, Eduardo Cardoso, Carlos Delgado, Kaká Barbosa e outros, mas continuo analfabeto. Numa sociedade democrática, ser investigador ou escritor e ter alguma razão científica não dá o direito de impor a língua a quem quer que seja. Sim, sentimos, pensamos e projectamos em crioulo mas ainda é em português que lemos e escrevemos. Corremos o risco de, por má gestão, o ALUPEC, que já é um património comum, se transformar numa arma contra o crioulo cabo-verdiano. Desejo que não e as gerações futuras possam comunicar eficientemente nestas duas línguas + 1.


Está a referir-se a uma questão essencial, que já foi objecto de uma convenção internacional, através da UNESCO, a Declaração sobre a diversidade cultural. A diversidade cultural envolve várias áreas, nomeadamente a língua. Por outro lado, o direito das crianças à educação na sua língua materna está universalmente consagrado. Daí que a preservação das variantes da língua cabo-verdiana seja uma obrigação. Mesmo o ALUPEC é contestado e é normal que seja contestado no âmbito de um processo criativo, democrático e patriótico. Anormal seria a ausência de sensibilidade e de capacidade de diálogo construtivo. Efectivamente, parece haver necessidade de mais versatilidade, melhor comunicação e tolerância efectiva em relação à diversidade linguística e cultural. A cultura e a língua não se impõem a uma sociedade democrática. A História da Humanidade está cheia de aberrações resultantes de tentativas de manipulação e imposição da cultura. Portanto, na minha opinião, o que o Estado tem de continuar a fazer é promover a língua, é prepará-la para as funções que a parte mais avançada da sociedade lhe atribuir. Todas as variantes merecem igual tratamento, mas o crioulo cabo-verdiano não tem 9 variantes. Provavelmente existem mais desconfianças do que variantes, mas esta discrepância tem conserto. O ALUPEC também. Aliás, o alfabeto que o Ministério da Cultura começou a divulgar mostra mais sensibilidade à diferença do que se diz e parece. "

3-9-2009, 10:56:04
AM, Expresso das Ilhas

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