18.5.12

Pika

"(...) Qualquer língua, mesmo a que tem uma raiz comum, pode ser um obstáculo ao diálogo. Que o suscitasse um imbróglio linguístico de Riade a Beirute: é que a leitura do seu apelido é semelhante a “Ayru”, o que, em árabe literário, tem o significado de “pénis”.

“Isto é mais evidente nos países do Golfo Pérsico e do Levante - onde, em algumas regiões, 'ayru' também pode ser pronunciado como 'ir' ou 'er'”, disse ao PÚBLICO, por telefone, Abdeljelil Larbi, professor de Língua Árabe na Universidade Nova em Lisboa. “No Norte de África, por exemplo, é mais frequente o termo ‘zib’, para designar o órgão sexual masculino.” O académico tunisino recordou outra situação confrangedora, quando a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein recusaram, em 2010, a acreditação do diplomata Akbar Zeb como embaixador do Paquistão. Não porque a sua carreira fosse pouco distinta, mas porque o seu nome completo se poderia traduzir por “a maior pila”.

O árabe é uma língua fonética em que todas as letras são pronunciadas, sem consoantes mudas, como o L e o T de Ayrault. “Ao lerem o nome do primeiro-ministro francês como ‘Airut’, os árabes seguem a pronúncia e tendem a respeitar, na escrita, a transliteração original”, acrescentou Larbi.

Certamente para não correr riscos, o diário “Al Hayat”, uma referência em todo o mundo árabe, com fundos da Casa de Saud e sede em Londres, modificou o nome de Ayrault para “Aro”. Uma das estações de televisão dos Emirados Árabes Unidos (uma federação de sete estados) enviou um memorando aos seus jornalistas, aconselhando a que o político que substituiu François Fillon em Matignon fosse identificado com “Aygho”. No Dubai, o jornal “Al Bayam”, propriedade da família real, optou por excluir o apelido, e titulou em primeira página: “Hollande inaugura o seu mandato nomeando Jean-Marc como primeiro-ministro.” (...)" 

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