23.10.10

Tradusão: di kriolu pa Purtuges

"A minha formação mental não está feita para escrever em crioulo. Eu falo crioulo, obviamente!
 Germano Almeida.

Tradusãu – traduson – tradusan - tredusãu...

Tradução significa “operação que consiste em fazer passar um enunciado emitido numa determinada língua (língua-fonte) para o equivalente em outra língua (língua-alvo), ambas conhecidas pelo tradutor; assim, o termo ou discurso original torna-se compreensível para alguém que desconhece a língua de origem.” (Dicionário Houaiss).

Podemos afirmar que Traduzir uma frase do Crioulo para a Língua portuguesa não está ao alcance de todos os falantes Caboverdianos alfabetizados em português. E não está, até para “os especialistas” que nessa actividade se descuidam.

1. «“N te despertidarizó-b” (SV), (Port: eu te despartidarizo”).» ("te" está para "ta" em VS)

No “nosso português” deveria ser “Eu despartidarizo-te." (…houvesse o verbo despartidarizar em LP...).

2. « “No/nu sta bai relansá-l di nobu na pulítika (ST), (Port: nós vamos relançar-lhe na política novamente”)»

No “nosso português” deveria ser “? nós vamos relançar-lhe na política” já que relançar significa lançar de novo. O pleonasmo aqui nos parece (des)necessário? Tanto em Crioulo(?) como em português. (NB: não se quer discutir a gramaticalidade da frase).

3. « “el ta kriolá demás” (SV), (Port: ele gosta muito de falar crioulo”)»

“el ta kriolá demás” - esta frase, traduzida para a LP, destituída do seu contexto discursivo, não nos permite aferir uma tradução adequada. Apesar disso, quiséssemos retraduzir a frase dada, ele gosta muito de falar crioulo, em 3, de Port: para o Crioulo seria: el ta gosta txeu di papia/fala kriolu. /el ta gostá mute di papiá/falá kriol(u). Não conseguimos descortinar "kriolá" com sentido "gostar falar muito", mas...

No “nosso português” deveria ser “ele criouliza demais”; para significar “apetite fácil” em tornar Crioulo em termos estruturais, fonéticos, morfológicos etc. muitas das palavras e expressões da Língua portuguesa, porque não de outras(?), em detrimento das palavras e expressões vernáculas do Crioulo… Se esse “apetite” continuar a fazer escola, certamente não mesteremos alupec/AK!

Ainda, sobre a frase 3., se admitirmos, por hipótese, que “Kriolá” é uma forma verbal, (de kriolu) formada por um processo derivacional na na língua-fonte, o sentido seria o de “prática de acção de… tornar…”; pudesse vir a ser aportuguesada como verbo “*crio(u)lar = Crio(u)l(o)+ar ou ainda = *acrioular= a+ crioul+ar ”, fazendo paralelismo com aportuguesar (tornar português) será sempre uma forma verbal. – Bu/bo sta krioliza/kriola dimas.  "Estás a crioulizar demais".

O Dicionário HOUAISS não tem a entrada crioular,mas regista Crioulização para significar “processo pelo qual um pidgin se expande e se torna linguisticamente mais complexo, tornando-se a língua materna de determinada comunidade.” Ainda não aceita *crioulizar (crioulo + -izar + -ção). Embora seja seguro que a palavra Crioulização deriva de *crioulizar.
O enriquecimento lexical da Língua Caboverdiana deverá e poderá ser feito, sempre que possível, nos limites da nossa Língua, obedecendo às regras internas cristalizadas no crioulo de Cabo Verde.

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