Em Cabo Verde, sempre tivemos "escritas" do Crioulo... e a consciência do seu valor relativo.
GABRIEL MARIANO (alguma biografia) : " (...) Os poetas cabo-verdianos anteriores à Claridade escreveram em português e também escreveram em crioulo, caso de Eugénio Tavares, caso do Pedro Cardoso, do Cortez. Eu verifico o seguinte: escrevendo em português são fotocópias dos poetas portugueses – nada de criatividade, nada de originalidade. Escrevendo em crioulo dão-se duas coisas. Primeiro aspecto: uma identificação através da língua crioula, uma identificação com o seu próprio ambiente – a própria ilha e a própria região, etc. A língua materna reconduz-nos à mãe e há então esse fenómeno - em crioulo - uma identificação do poeta com a sua própria terra. O outro aspecto é que os poetas que escreveram em crioulo foram grandes poetas, criativos, originais em crioulo, enquanto que em português, como eu lhe disse, fotocópias medíocres de poetas portugueses. Isso antes de Claridade. Quer dizer, (…) depois de Claridade – em consciência já mais clarificada, então surgiram indivíduos em Cabo Verde que escreviam em crioulo, digamos que quase deliberadamente. (…) Eugénio Tavares, poeta, escrevia as suas mornas em crioulo para cantar (…). Depois da Claridade, os poemas em crioulo despreendem-se do canto (…) passaram a ser criações autónomas.
(…) não se compreende que se estude em Cabo Verde o latim, uma língua morta, e não se estude o crioulo que é uma língua viva. (…). "
MARIANO, Gabriel (p. 326) IN: LABAN, Michel. Cabo Verde: Encontro com Escritores. Fundação António de Almeida [1980?] Porto.
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