21.5.10

1818: Bali pena ler... Pasadu ka ta diskisedu

"Criados e acostumados à languidez em uma habitual preguiça, que se espera desta casta de gente?: moleza, frouxidão e falta de energia.
Se não se sabem aproveitar dos benefícios que Deus lhes dá, em possuírem uma terra que é capaz de dar-lhes todo o necessário para a vida, como sua Majestade esperar dali um estado florescente, e lucrativo? Se conhecem melhor os estrangeiros que o seu Soberano, rebaixando as suas Reais Leis, como esperar os louvores pelos fazer livres e senhores do que possuem [?] nada disto pode ser. Não sucede assim nos outros povos conquistados dos domínios portugueses, que todos são humildes, sujeitos e laboriosos. Está escrito nos provérbios antigos que quem não é para o comer não é para o ganhar. Acomodam-se para o seu sustento diário, e permanente, como já fica dito, com uma simples mandioca, uma maçaroca de milho assada, com um CUFANGO, uma talhada de CUSCUS, isto com uma garrafa de leite azedo, ou dormido, como se lhes chamam, e com este frugal alimento vivem contentes e satisfeitos. Por consequência escanifrados com este simples comer, supõem-se inábeis, e faltos de ânimo para a defesa do seu próprio país.
Enfim, aonde falta alimento natural e substancial, falta toda a acção e vigor a todos os membros do corpo. Aonde falta a coragem e o valor, falta a energia; e aonde falta toda a educação, instrução, e civilização, falta o comércio, a sociedade entre os homens.
Isto tudo é o que sucede em Cabo Verde."



LUCAS DE SENNA, Manuel Roiz. 1818. Dissertação Sobre as Ilhas de Cabo Verde 1818. Men Martins. Portugal. 1987

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