"Ora se a instrumentalização não é transferência pura e simples da funcionalidade das outras línguas para a estrutura do crioulo, vejamos o que ela significa: naturalmente, quando falamos de instrumentalização do crioulo referimo-nos essencialmente à estandardização alfabética, embora se possa referir também à instrumentalização morfo-sintáctica.
Quanto ao primeiro ponto, a primeira questão que se põe é de saber que tipo de alfabeto devemos adoptar. O de base etimológica ou então o de base fonológica. Tanto um como outro tem as suas vantagens e suas desvantagens. O nosso objectivo consiste em adoptar aquele que melhor possa servir o fim que temos em vista.
Se o objectivo a que nós nos propomos é fazer o estudo do crioulo para melhor facilitar a aprendizagem do português, deveremos adoptar o alfabeto de base etimológica. Cremos ser esta a grande vantagem deste alfabeto. Ele permite que o português seja a continuação do crioulo não tanto na sua estrutura sintáctica, mas fónica. O aprendiz do crioulo teria o ouvido educado para a fonética portuguesa com a sua respectiva grafia.
(...)
Efectivamente, as desvantagens desse alfabeto [etimológico] são grandes. O crioulo não só perderia a sua autonomia fonética, ao adoptá-lo, mas também complicaria a sua grafia desnecessariamente. (...)"
Veiga, Manuel (2000), “Instrumentalização do Crioulo”, in Manuel Veiga (org.), Iº Colóquio Linguístico sobre o Crioulo de Cabo Verde. Praia: INIC, 158.
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