6.1.13

«Ela é imanente»


A palavra não é uma consequência desnecessária
de uma outra palavra já pensada
porque nasce de um vazio perante outro vazio
e tem de inventar o seu corpo em cada sílaba

Ela ama o vagar da brancura que a move
e quer segui-lo na nudez
Por isso afasta as plumagens e os espelhos
e pisa descalça os grãos de argila de um solo deserto

Ela quer habitar um espaço novo
que seja só dela e do silêncio do mundo
e ser como um navio na nudez de uma delta

E se não for mais que o murmúrio de umas sílabas
ou ténue teia de uma aranha branca
talvez ainda seja o ritmo da sua incessante sede

António Ramos Rosa IN «As Palavras»

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