A palavra
não é uma consequência desnecessária
de uma outra
palavra já pensadaporque nasce de um vazio perante outro vazio
e tem de inventar o seu corpo em cada sílaba
Ela ama o
vagar da brancura que a move
e quer
segui-lo na nudezPor isso afasta as plumagens e os espelhos
e pisa descalça os grãos de argila de um solo deserto
Ela quer
habitar um espaço novo
que seja só
dela e do silêncio do mundoe ser como um navio na nudez de uma delta
E se não for
mais que o murmúrio de umas sílabas
ou ténue teia
de uma aranha brancatalvez ainda seja o ritmo da sua incessante sede
António Ramos Rosa IN «As Palavras»
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